sábado, 23 de maio de 2020

Tigelas de Loulé


É uma ideia que me vem seguindo desde algum tempo. Como um cãozinho que encontramos por acaso durante um passeio. O mais das vezes, a tendência é enxotar essa presença para a qual não temos disponibilidade. Os dias parecem já demasiado cheios de solicitações. As horas escoam rapidamente em semanas que se adensam em dúzias de blocos compactos.
Mas, ocasionalmente, de modo voluntário, ou não, paramos e prestamos um pouco mais de atenção. Disponibilizamos um espaço que afinal estava ali.
Assim, na continuidade da série “Tigelas do Algarve”, esta ideia de criar uma categoria mais localizada na terra de onde são originárias, resultou nas “Tigelas de Loulé”.

Se, por um lado, as “Tigelas do Algarve” não estão submetidas a qualquer padrão, cor ou forma, já esta série das “Tigelas de Loulé” apresenta, dentro da diversidade de soluções encontradas, uma clara linha comum que assenta no propósito de homenagear as artes e ofícios tradicionais da história desta cidade, e que contribuíram para a criação da riqueza e identidade local.

Desde logo, a matéria-prima em que são feitas, o barro, remete-nos para as numerosas olarias que existiram na antiga vila de Loulé.
A textura do entrançado, na superfície exterior das peças, reporta-nos para a actividade da empreita de palma que estava na origem de uma grande variedade de objectos utilitários, actualmente com propósito quase exclusivamente decorativo.
No acabamento da cozedura final das tigelas, um vidrado com os reflexos metalizados do cobre alude às oficinas dos caldeireiros que impregnavam as ruas com o som das marteladas sobre o metal.

Ainda que diversas na cor, forma e técnicas de cozedura utilizadas, estes são os traços que identificam as “Tigelas de Loulé”, e é com verdadeiro e renovado prazer que me empenho na elaboração das diferentes soluções encontradas.












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