É uma ideia que me vem seguindo desde algum tempo. Como um cãozinho que encontramos por acaso durante
um passeio. O mais das vezes, a tendência é enxotar essa presença
para a qual não temos disponibilidade. Os dias parecem já demasiado
cheios de solicitações. As horas escoam rapidamente em semanas que
se adensam em dúzias de blocos compactos.
Mas, ocasionalmente, de modo
voluntário, ou não, paramos e prestamos um pouco mais de atenção.
Disponibilizamos um espaço que afinal estava ali.
Assim, na continuidade da série
“Tigelas do Algarve”, esta ideia de criar uma categoria mais
localizada na terra de onde são originárias, resultou nas “Tigelas
de Loulé”.
Se, por um lado, as “Tigelas do
Algarve” não estão submetidas a qualquer padrão, cor ou forma,
já esta série das “Tigelas de Loulé” apresenta, dentro da
diversidade de soluções encontradas, uma clara linha comum que
assenta no propósito de homenagear as artes e ofícios tradicionais
da história desta cidade, e que contribuíram para a criação da
riqueza e identidade local.
Desde logo, a matéria-prima em que são
feitas, o barro, remete-nos para as numerosas olarias que existiram
na antiga vila de Loulé.
A textura do entrançado, na superfície
exterior das peças, reporta-nos para a actividade da empreita de
palma que estava na origem de uma grande variedade de objectos
utilitários, actualmente com propósito quase exclusivamente
decorativo.
No acabamento da cozedura final das
tigelas, um vidrado com os reflexos metalizados do cobre alude às
oficinas dos caldeireiros que impregnavam as ruas com o som das
marteladas sobre o metal.
Ainda que diversas na cor, forma e
técnicas de cozedura utilizadas, estes são os traços que
identificam as “Tigelas de Loulé”, e é com verdadeiro e
renovado prazer que me empenho na elaboração das diferentes soluções
encontradas.
Sem comentários:
Enviar um comentário