Encontrar equilíbrio é um exercício dinâmico. Exige esforço e descontracção. Uma permanente mudança de estados.
Existe na natureza uma força oposta à força vital. Um vector de tensão potencial que tende para a imobilidade. O chamado menor esforço. Assim, a inesgotável sede de energia, que é característica da vida, é naturalmente contrabalançada pela constante lei do menor esforço. Mas a expressão vital encontra sempre um modo de contornar, romper, ultrapassar os obstáculos e exceder os limites impostos. Como e porquê, é um mistério. Uma palavra pouco científica, mas que retrata com exactidão o quanto sabemos. Falo por mim, claro, que já ando nisto alguns anos e, francamente, parece uma frase feita, mas é verdade, sei cada vez menos.
Portanto, é isto. Uma força vital empurra-me para a mesa de trabalho, enquanto, numa qualquer parte do cérebro, um telegrama urgente é lido num sussurro ansioso: O mundo precisa de mais tigelas. Mãos à obra! Arregaço as mangas. Mas atenção, novo telegrama: Havia uma interrogação na mensagem anterior. Não podem ser umas tigelas quaisquer. Todo o processo tem de passar pelo caótico crivo das leis criativas, sobre as quais, já o mencionei, sei muito pouco. Assim, ao mesmo tempo que me apresso a corresponder às necessidades do mundo, vou hesitante, a cada passo, numa constante incerteza. De modo que, ao fim de todas e cada uma das séries, deparo-me com esta ilusória sensação da última tigela. Sei que é uma ilusão, mas que sei eu? Digamos que, num esforço de trabalho imaginativo, consigo contrariar a força que tende obrigar-me a uma leitura linear do tempo, estarei a resvalar perigosamente para um desconcerto das leis naturais? Ou estarei a aproximar-me de um outro tipo de entendimento?
Da inutilidade de todas estas considerações, as
tigelas parecem sorrir com um ligeiro traço de ironia. Da primeira à
última, qualquer que seja a sua ordem na linha de produção.
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