quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Jarras

Não são exactamente jarras de cerâmica. Não nasceram como tal. Na sua concepção, elas procuram intencionalmente representar, em tamanho real, a ideia de uma jarra. Da mesma forma que um cão de cerâmica, em tamanho real, não é verdadeiramente um cão.

Possivelmente, nunca uma jarra foi feita. Um dia, algures, algum pote sem tampa foi aproveitado para nele se colocar um ramo de ervas aromáticas. Com o tempo, tornou-se necessário nomear essa funcionalidade. Foi então criada a ideia de jarra. A partir desse momento, quando alguém se dispõe a conceber um objecto com a específica funcionalidade que persegue essa ideia, está, na verdade, apenas a representá-la. 

De um lado do rio, temos um qualquer recipiente sem nome, do outro, a imagem virtual de uma travessia carregada de possibilidades. No espaço intermédio, temos a ilusão, a quimera, o devaneio, a imaginação, o sonho, o delírio, a fantasia, a alucinação, a utopia.

De qualquer forma, estas representações que produzi mantêm a sua capacidade funcional. Utilizei, na sua manufactura, diferentes misturas de argilas amassadas sem grande rigor de proporcionalidade, guiando-me instintivamente pelo precário equilíbrio entre a experiência acumulada e o mais ou menos calculado risco da inovação.

Cozidas a 1100 graus no forno a lenha. Parcialmente vidradas em monocozedura. Janeiro de 2019.







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