pode um objecto de fabrico artesanal ser um vestígio do futuro?
Designar a origem destas tigelas de cerâmica como sendo o Algarve, poderia levar-nos, eventualmente, a colocá-las na prateleira do artesanato tradicional, ao lado da cesta de palma e da cataplana de cobre. Porque a questão do artesanato pressupõe uma localização. O uso de matérias-primas locais. A aplicação de técnicas e desenho de inspiração regional, geralmente em resposta a uma necessidade do meio em que está inserido.
Idealmente, o artesanato deveria satisfazer dois tipos de procura: a do consumidor local e a do visitante ocasional, em busca de um artefacto marcado pelas qualidades intrínsecas do lugar visitado.
Mas a passagem do tempo é, também, um factor incontornável na definição de artesanato. Ora inclinando-se para formas de produção semi-industrial, ora tendendo para o lugar rarefeito da arte, na linha cronológica do seu percurso, a ideia de artesanato parece sujeita a avanços e recuos como um passageiro irrequieto num comboio em movimento.
Estas tigelas, libertas dos constrangimentos de uma identidade regional, são resultado de uma cultura inequivocamente globalizada. Assumem apenas a particularidade de uma marca identificadora pessoal. Afirmam um olhar alternativo, um outro Algarve, sem fronteiras. São testemunho de um lugar utópico ainda possível.
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