terça-feira, 26 de julho de 2016

FIA 2016

As Tigelas do Algarve voltaram a marcar presença na Feira Internacional de Artesanato de Lisboa na FIL - Parque das Nações













pode um objecto de fabrico artesanal ser um vestígio do futuro?  


Designar a origem destas tigelas de cerâmica como sendo o Algarve, poderia levar-nos, eventualmente, a colocá-las na prateleira do artesanato tradicional, ao lado da cesta de palma e da cataplana de cobre. Porque a questão do artesanato pressupõe uma localização. O uso de matérias-primas locais. A aplicação de técnicas e desenho de inspiração regional, geralmente em resposta a uma necessidade do meio em que está inserido.

Idealmente, o artesanato deveria satisfazer dois tipos de procura: a do consumidor local e a do visitante ocasional, em busca de um artefacto marcado pelas qualidades intrínsecas do lugar visitado.

Mas a passagem do tempo é, também, um factor incontornável na definição de artesanato. Ora inclinando-se para formas de produção semi-industrial, ora tendendo para o lugar rarefeito da arte, na linha cronológica do seu percurso, a ideia de artesanato parece sujeita a avanços e recuos como um passageiro irrequieto num comboio em movimento.

Estas tigelas, libertas dos constrangimentos de uma identidade regional, são resultado de uma cultura inequivocamente globalizada. Assumem apenas a particularidade de uma marca identificadora pessoal. Afirmam um olhar alternativo, um outro Algarve, sem fronteiras. São testemunho de um lugar utópico ainda possível.

Para além das transformações mais ou menos dramáticas, desde a tranquila massa informe de uma sedimentação, passando pelo intenso fogo de um imaginário delirante, até ao objecto final, que poderiam ser cântaros, enfusas ou alcatruzes. Poderiam até ser pratos de cortiça ou colheres de plástico reciclado. São tigelas de cerâmica. Do algarve. Das minhas, para outras mãos. 


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